Escolhi a Psicologia porque é uma forma de atuar frente ao humano, onde se cria um espaço acolhedor para ouvir falar de medo, angústia, dor, sofrimento, sintoma e amor.

Quem nunca sentiu medo? Uma ansiedade sem nome, uma solidão onde se é difícil até dizer sobre o que se faz sentir tão mal?
Escolhi a Psicologia para poder participar na criação de um espaço onde quem sofre pode falar de sua dor, seus receios, suas angústias, sonhos em meio a pesadelos, mas também para falar de amor.
Eu acredito que deve haver um espaço para resgatar traços humanos esquecidos, amores perdidos, pedaços do eu.
Posso dizer que ainda sofro de reminiscências, não ditos, afetos perdidos, emoções caladas, histórias não escritas no tecido do tempo real, onde o medo me paralisou.
Contudo, não estou todo parado: busco integrar partes de mim, talentos, potencialidades, oportunidades de ser, de amar, cuidar e viver.
Tive muitas ajudas na minha vida: professores comprometidos, familiares e amigos que me deram ouvido, e psicólogos que ofereceram esse espaço de escuta, de cura, de legitimar o sofrimento, que me ajudaram a abrir espaço para ser, tentar, chorar e buscar amar.
Quando me ponho a atender, meu compromisso sempre deverá estar em abrir esse espaço, escutar o que se passa, a dor sentida, o que aflige o ser, na esperança de que, dando voz a isso, possa-se abrir caminho para que o sujeito consiga andar e sim, buscar ser mais feliz - mesmo sabendo que a felicidade é um conceito emblemático e temporário, além de construir uma história rica em experiências afetuosas, tenras, de lutas e conquistas.
Não posso prometer nada além de um espaço limpo e claro de escuta, com o compromisso de aceitar ouvir o que se passa, procurar ajudar a entender e estar presente na fala, abrindo a possibilidade de um novo vir a ser.
Sempre que lemos sobre dores, diagnósticos, prognósticos, complexos, estruturas e possibilidades, sabendo que são vivências escritas e vistas de um determinado ponto, uma história percorrida, carregada de conceitos construídos pelas mais diferentes formas de observação. Mas sempre que uma pessoa entra em um consultório, parte de todo esse caminho precisa ser novamente percorrido: há uma história ainda não contada, especificidades ainda não reunidas na vida de quem fala. Sendo assim, o espaço é de escuta, não de julgamento.
Meu compromisso é este: escutar, abrindo espaço para dar voz à dor, na esperança de que então surja um espaço para se criar uma forma de ser e de estar aqui, para que se possa retomar a esperança e fazer um novo caminhar.
Hugo Silveira 02/06/2020